2 de out. de 2013

Reapresentação

Tudo o que foi escrito neste blog pertenceu a outra pessoa. Uma pessoa que evoluiu, mas nunca perdeu alguns entraves. Como bolas de ferro amarradas a seus pés desde sempre.
Eu costumava ser insegura, cheia de questões. Tinha em mim a alegria e me admirava, mas ainda me permitia sofrer.

Aos poucos fui aprendendo a simplesmente sentir. Bom ou ruim, todo sentimento tem seu valor. Mas, mais do que isso, aprendi a aceitar a transformação. Já faz um tempo que comecei a me abrir para a mudança. A Raquel de antes jamais poderia ser feliz, pois não era livre.

Hoje quem escreve sou eu mesma, mas outra. Para começar, nunca estive tão feliz em minha vida.

A definição de “se abrir para algo” é especialmente relevante. Vivencio um momento de muita crença na capacidade de intuir e construir. Tem a ver com intenção, atração, vibração. A abrir-se para aquilo que se deseja. E a fechar-se para o que não se quer. Mas o que menos importa é compreender o mecanismo pelo qual as coisas surgem. Só sei que parece magia. E vejo as coisas acontecer bem de pertinho, com olhos atentos; as alcanço com as mãos, empiricamente comprovo, obviamente acredito. Sinto que descobri a fórmula da felicidade. Essa fórmula não pode ser tomada de uma vez, mas tem efeito cumulativo.

Desde pouco antes de o Caio nascer minha transformação ficou mais evidente. Iniciou-se um processo de desconstrução de minha personalidade, esta que – hoje sei – se baseou em uma educação cheia de estigmas, preconceitos e influências externas nada a ver com minha essência. O processo de desconstrução foi profundo e gradual. Mas aos poucos fui aprendendo a questionar, perceber o que me pertencia e o que eu apenas achava que achava. Muita coisa para derrubar, muitos tijolinhos para recolocar.

Eu vi, pontuei, nomeei o que queria defender: maternidade ativa, feminismo, poliamor… E as coisas contra as quais lutar: consumismo, intolerância, gordofobia, normatividade, materialismo, romantismo, sistema… No entanto, por mais legítimas que sejam as ideias, colocá-las em prática é complicado. Algumas escolhas eu banquei de corpo e alma! Já outras ainda não estou pronta para bancar, mas sigo sobrepondo os tijolinhos sem parar.

Em uma frase: quero ser uma pessoa boa. E isso nada tem a ver com altruísmo. Muito menos com materialismo. Não quero ser bem-sucedida e realizar sonhos. Estou me tornando a pessoa que quero ser. E isso só é possível porque me desapeguei de quem era. Libertei-me de estigmas. Eu era insegura, insegura, insegura! Não queria deixar de ser insegura, pois isso era uma máscara para a carência. Acho que é isso. A insegurança me protegia do julgamento, me aproximava da aceitação por parte dos outros.

Hoje não almejo a aceitação dos outros, apenas a minha. Frase feita, de efeito. Só que agora eu a ponho em prática. E, de repente, não há mais o que temer, o que esconder, com o que me preocupar. Não tenho mais defeitos. Defeitos não existem. O que existem são pessoas incompatíveis com minhas qualidades. Neste ano, provavelmente quando a desconstrução já estava avançada, fiquei apta a uma nova etapa: a reconstrução. Do que quer que seja – do zero, se preciso. Basta saber o que quero e… BUM!

O papel da intuição é perceber que tudo que me envolve se entrelaça, por meio de coincidências que já não me assustam mais – por mais misteriosas e indecifráveis que pareçam.

Algumas reflexões:
  • Quanto maior a transformação, maior o isolamento. É preciso estar preparado para sentir-se ilhado, um verdadeiro estranho incompreendido. E nem pensar em considerar-se vítima da incompreensão! Foda-se a incompreensão alheia! Ao aceitar isso, cada pessoa que se juntar por afinidade despertará uma cumplicidade valiosíssima.
  • De todos os defeitos que podemos condenar no ser humano, o maior é a hipocrisia. Porque ela é inerente a todos, o tempo todo. Não há maldade que pratiquemos com tanta frequência e automatismo quanto a hipocrisia. Ela fede, mas nos acostumamos com o cheiro.
  • Quanto mais verdadeira sou, mais confiante, mais feliz!
E já não estou sozinha nessa viagem.

27 de mai. de 2013

Inteligência aprisionada

Este blog nunca foi — nem poderia ter sido visto como — uma ferramenta de atualização periódica de minhas expressões (ou qualquer definição mais adequada — o importante é a palavra "periódica").Afinal, provavelmente eu tenho coisas a dizer com uma frequência maior do que uma vez a cada 2,8 anos, não é mesmo? Aliás, eu costumo ter mil coisas a dizer por minuto, enfim...
Mas o que será que me move a querer registrar algo aqui, justamente aqui? Acesso o Facebook o tempo todo, oras! E agora estava observando que é muito raro escrever algo autoral por lá também.
Bom, mas entender por que preferir escrever aqui a escrever lá é fácil: aqui lê quem quer, enquanto no Facebook a gente "obriga" todo mundo a ler o que se escreve.
Inclusive isso diz muito a respeito das pessoas. Com certeza não sou a primeira a fazer uma classificação dos usuários, mas esta é a minha:
  • O sem noção: não tem qualquer constrangimento em postar as coisas mais toscas — e levar qualquer moral embora junto
  • O fodão: sabe exatamente o que dizer — independentemente de sua intenção, visto que a atinge com primor
  • O inseguro: teria coisas interessantes a dizer, mas por receio de virar um sem noção fica contido
  • O tosco consciente: categoria depreciativa que criei para me autoenquadrar, já que achei pretensioso me classificar como insegura — para você ver o nível de insegurança!!!
E eis que interrompo essa classificação, pois está ficando idiota demais, socorro!
Mas o fato é que, ao tentar entender por que sou tão contida nas redes sociais, uma vez que ao vivo sou uma metralhadora verbal, bateu a maior angústia! Uma angústia que batizei de "inteligência aprisionada". Vou dissertar a respeito. Considerando que:
  1. quando era criança, eu escrevia redações enormes e muito fodonas! Não quero nem saber se eram realmente boas, mas eu as achava boas e isso, é claro, é suficiente;
  2. quando criei o blog eu postava um monte de merda numa boa — e o mundo nunca acabou por causa disso;
  3. eu costumava me achar inteligente, ainda que insegura em vários outros aspectos;
agora estou passando por uma crise intelectual. Ando me sentindo burrinha como nunca!
Dando continuidade às enumerações, vamos às possíveis causas:
  • Parei de estudar, o que estacionou o desenvolvimento dos meus neurônios.
  • Minha própria inteligência me fez andar com pessoas mais inteligentes, o que, comparativamente, me deu a impressão de estar mais burra.
  • Agora que sou mãe, linda, independente e bem-sucedida, não tenho mais do que reclamar e resolvi achar sarna para me coçar.
Bom, provavelmente é tudo isso junto!
Minha vida está com um zilhão de pendências a serem resolvidas, mas vou colocar na listinha um pouco mais de literatura — e uma dose de chá de semancol.
Isso deve resolver a princípio!

5 de ago. de 2010

Agosto de 2010

Passei a última hora relendo os primeiros posts que publiquei neste blog. Nossa, que engraçado ler coisas de sete anos atrás, né? Eu me dirigia para um público, sempre me desculpando pelo atraso em postar. Hoje acho engraçado eu ficar me sentindo "a celebridade", mas não tem outro jeito de escrever em um blog senão supondo que ele será lido por alguém, né? Seria ainda mais ridículo escrever "por escrever", como se fosse algo privado.
Hahaha! Eu continuo igualzinha! Os posts tinham exatamente a cara desse parágrafo aí de cima! E eu continuo igual em várias outras coisas: ainda fico me autoanalisando o tempo todo, continuo preguiçosa e dorminhoca que só, tenho crises de psoríase quando fico preocupada (ou seja, quando acumulo responsabilidades e acabo não dando conta de cumprir)...
Mas, como era de se esperar, dei a volta por cima na vida! Nossa, como sou feliz! Estou magra, meu cabelo está lindo, vou mudar de casa e morar com o Rô (e com o Caio, claro), vou acertar minha vida profissional e viver com tranquilidade... Ai que bom!
E o melhor de tudo eu não falei: eu tenho o filho mais maravilhoso do mundo! O Caio está a cada dia mais perfeito, nossa! Ele é bonzinho, super sorridente, dorme bem, come muito bem, nunca ficou doente, quase não chora, gosta de passear, faz cocô no penico, não dá trabalho algum! É lindo, perfeito e trouxe muita sorte pra minha vida! Tenho aprendido tanto com essa criaturinha, viu? E me sinto orgulhosa de mim mesma e do Rô, pois sei que parte do que ele é se deve a como estamos cuidando dele. Admito que até exagero e fico me achando a melhor mãe do mundo, hehehe... Ah! Mas só um pouquinho eu posso, né?
Agora há pouco eu tinha colocado o Caio no carrinho, dei um brinquedo e vim ler meus e-mails. Fiquei distraída, aí me dei conta de que o Caio estava quietinho há um tempão, brincando em seu carrinho ao meu lado. Que anjinho, né? Ele está com sete meses e meio e é tão comportado! Aí resolvi dar um pouquinho de atenção, fiz uma gracinha, e ele respondeu gargalhando! Meu nível de serotonina foi às alturas! Fico o tempo todo com essa sensação de felicidade que vai transbordar desde que esse menininho nasceu. Nossa, como é bom! Fiquei tão feliz que resolvi registrar o momento com uma foto, veja:


E eu estava aqui filosofando... Eu devo ser uma pessoa boa, pois sou recompensada com tudo de que preciso, a seu tempo, mesmo que às vezes eu queira acelerar as coisas.
Uma coisa muito relevante que aconteceu na minha vida foi ter emagrecido, certo? Mas como vinha acontecendo, eu tinha grandes chances de voltar a engordar daqui a um tempo se não me cuidasse, sei lá... Aí acho que o Caio veio na mesma hora pra me ajudar também nesse processo. A gravidez e a amamentação ajudaram na perda de peso, e vou parar de amamentar na mesma época em que o Caio estiver comendo o mesmo que eu (ou que a família, no caso), de modo que vou querer me alimentar melhor, para dar o exemplo e tal. Hoje cometo meus excessos e não engordo, mas em vez de ficar com medo de me perder, prefiro acreditar que vou ponderar tudo a seu tempo. E cada dia será melhor, ehh!!! E como não ser, com um sorriso desses de presente?

12 de jun. de 2010

Amor fundamental

A Lau tirou fotos minhas e do Caio.

Novidades pós-maternidade

Que a experiência de tornar-se mãe é transformadora não é nenhuma novidade. Ainda assim, faço questão de reforçar o coro dos clichês maternais e descrever algumas mudanças que senti instantaneamente ao nascimento do meu filho:
  • Eu me dei conta de que voltar a trabalhar fora depois dos quatro meses de licença não é apenas difícil, mas inconcebível. Tinha que ser proibido por lei!
  • Coloquei em cheque meu lado feminista e passei a desejar largar tudo e me dedicar apenas ao meu filho e ao meu lar.
  • Passei a amar muito mais a minha mãe.
  • Comecei a reparar nos bebês e crianças que sempre estiveram em todos os lugares. Antes eram criaturas coloridas e saltitantes, mas hoje são pessoinhas puras, carregadas de amor, sensíveis e generosas.
  • Desenvolvi preocupações com o meio ambiente e a qualidade de vida, adotando alguns hábitos mais saudáveis (e lamentando por não conseguir adotar outros).
  • Aprendi a obedecer ao ritmo natural da vida, me desprendendo de horários cronometrados e tarefas domésticas adiáveis, além de tornar-me bem mais paciente e feliz.
  • Deixei aflorar em mim qualidades antes abafadas, como confiança, criatividade, força, ousadia, cara de pau, entre outras.
  • Descobri que terei que adquirir novos hábitos para dar um bom exemplo a meu filho, como me alimentar melhor (abandonando tranqueiras e comendo comida feita em casa), dormir e acordar em horários razoáveis, escovar os dentes após todas as refeições (e usar fio-dental), não falar palavrões, tomar mais cuidado ao criticar as pessoas, tornar-me menos consumista, passar menos tempo em frente à TV (e desligá-la na hora de dormir), passar mais tempo lendo e ouvindo música, comer à mesa com a família, e por aí vai...
  • Senti na pele o maior amor do mundo!
Posso aproveitar e contar algumas coisas que eu não sabia até viver na prática:
  • A menos que a mulher chegue parindo ao hospital, médico de convênio NÃO FAZ parto normal (mas mente descaradamente).
  • Maternidades não são a única opção de local para ter um filho, e o obstetra muitas vezes pode não ser necessário (sem comprometer em nada a segurança do parto).
  • Se a mulher estiver sem medo e à vontade (o que implica vários fatores), o trabalho de parto pode ser uma experiência incrível.
  • As linhas seguidas pelos médicos não são padronizadas e devemos procurar outros quando não concordamos com o que eles indicam (por mais que pareçam irredutíveis em suas conclusões).
  • No começo, amamentar é muito difícil, pois exige doação absoluta (absoluta meeesmo).
  • Depois que passa a fase crítica, amamentar torna-se muito prazeroso (inclusive fisicamente – e emagrece).
  • Chupeta e mamadeira são muito menos inocentes do que parecem, e totalmente dispensáveis.
  • Trocar fralda do seu filho, por mais cheia de cocô que esteja, não é nojento.
  • Não existe nada mais lindo no mundo que o sorriso do seu bebê.
  • Barulho de secador de cabelo é excelente para acalmar bebês pequenos.
  • Hoje em dia existem fraldas de pano modernas, práticas e ecologicamente corretas.
  • E, principalmente, eu nasci para ser mãe e quero ter o máximo de filhos possível.
(E mais umas milhões de outras coisas.)